Faz a Natureza mais uma tentativa para nos mostrar a nossa verdadeira dimensão. Somos pequeninos. Pretensiosos arrogantes, cegos... tão cegos!
Chego a casa doída, cansada... Deito o míudo na cama, meio acordado, meio a resmungar... Olho para aqueles quatro anos de existência e sinto aquela paixão... aquela... e sinto medo... aquele.
Fechadas as portadas, trancadas as portas, pijama vestido, sento-me aqui e finalmente deixo os papeis da minha vida. Fico só eu!
Ligo a televisão, o canal 2 que está lá quando é preciso... fico por minutos a ver os relatos dos feridos, estropiados, amputados dos jovens americanos regressados do Iraque... apetece-me pensar nisso, revoltar-me, sentir o estômago revirar com as imagens e os relatos... penso melhor e percorro os canais e vejo aquelas séries de sucesso... sempre com mortos e feridos e sangue... sempre muito.
Lembro-me da Ira, esse sentimento oportuno e destruidor que nos assombra a cada passo. Sei que essa nossa raiva se despeja assim, indiferentemente, ao assistir a essa violência, ao acidente, ao choque. Sim eu sei! assim é fácil!
Mas hoje não!
Desisto e desligo a televisão, apetecia-me pintar! Tenho uma ideia há meses, uma ideia que dá trabalho e requer tempo. Está preparada na minha cabeça. Tenho que ir buscar as tintas e os pincéis... tenho tudo planeado... mas hoje não!
Hoje tive umas guerras, daquelas que gosto, guerras de conhecimento, de estatura, guerras que têm um segundo nível, sempre melhor porque nos acrescenta vida, hoje também discuti com um cromo no trânsito, também faz parte deste teatro... nem sempre esquecemos a nossa condição de animal. Eu tinha razão!
Quando desliguei a televisão peguei no portátil, pus uma musica, e estou aqui.
Hoje fui à depilação, momento fabuloso aquele, com um molho de revistas verdes cheias de caras desconhecidas para mim mas motivo daquelas conversas sem raiz, sem destino, mas tão serenas, tão desprovidas de responsabilidade. Basta falar do tempo e tal... é bom! Apetecia-me outra coisa, mas hoje não!
Vou à janela, sinto falta da Meggy que devia estar ali, mas não está, olho o céu e não vejo sinal da intempérie anunciada, ainda bem, não gosto de ficar aqui, assim, sozinha!
Sou muito para dentro de mim, chego a ser demasiado eu, sem olhar em volta, sem reconhecer ninguém, mas hoje detive-me a olhar... Olhei com perspicácia a saídas dos miúdos da escola, olhei-os até aos ossos... Têm mau aspecto, t~em bonés e as calças estão a cair, mas são eles, genuínos, expectantes por um estimulo, um rumo... senti ainda mais o peso.
Agora vem o sono, tenho "O menino de Cabul" na cabeceira para que não me esqueça do Afeganistão, agora que já vi os relatos dos soldados Americanos. Hoje não leio mais, vou levar para a cama o saco de agua quente, apenas!
Surge na minha alma aquelas questões que me perseguem, agora que talvez esteja a passar por alguma crise existêncial de meia idade. Mas isto afinal é assim? Tenho que ser eu sozinha a contrariar as tendências? Não há uma ajudinha?
A música descambou, está a tocar um ruído que não me apetece ouvir.
Hoje não!
Amanhã devia acordar com o sol...
Amanhã será mais meu, com menos papéis a desempenhar, com algumas pontas inacabadas porque não sou omnipresente, mas com a preciosa pretensão de ter um dia magnifico... e uma noite magnifica... sem tv, sem pesos, sem horários, eu, eu, e eu. Tenho e sei que tenho esse direito, conquistei pois!
Não, não tenho muitas opiniões formadas! Mas tenho tantas em formação! Só não me canso de aprender!
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É tarde! Amanhã vou acordar com o Pirolito descalço, à beira da minha cama. Exige o canal Panda, esse canal que me afasta por momentos da triste realidade, exige tomar o pequeno almoço.
Amanhã... Até amanhã!
2 comentários:
Que seja um bom dia...
convite para a seguir a história de Alice
lá no ...continuando assim...
bj
Teresa
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