Com os meus olhos de menina, registei cada bocadinho do teu carro, guardei tudo com amor na minha memória. Guardei as melodias que assobiavas tão bem, o fado triste que cantavas, triste mas que eu gostava.
O banco levemente castanho, corrido de porta a porta, onde te sentavas orgulhoso, tinha no meio um segredo, um braço largo que descia e se transformava no meu banquinho. Ali sentada, orgulhosa, registava cada bocadinho de ti, do teu carro, apaixonada pelo vento quente que trazia sempre um cheiro a eucalipto que me acalmava, pela tua voz sábia que me contava histórias de cada monte, cada vale, cada caminho.
A meio da noite, o telefone tocava, uma chamada. A casa iluminava-se, com esmero e dedicação tudo se transformava. Era uma chamada. Cheirava a café, a manhã.
- Avó, posso ir ??
À noite nunca podia, porque à noite, quando o táxi era chamado, a história dessa noite não seria para uma menina, hoje percebo.
Mas uma noite deixaste-me ir, fomos ao Álamo, era pertinho. Foi a primeira vez que vi no horizonte de uma noite escura, as primeiras sombras claras do nascer do dia. Na viagem de regresso trazíamos no banco de trás, uma senhora linda, com um lenço negro na cabeça e um sorriso. Quando não estávamos sozinhos, eu ficava em silêncio a ouvir-te.
Marcou-me o respeito, a perseverança, a tua luta. Os valores que te edificavam, tão altos, tão bonitos, tão verdadeiros, tão meus. Marcou-me a melodia que assobiavas. Marcou-me a terra que tão bem conhecias e da qual me inundaste, marcou-me a gente sofrida que ajudavas com o teu carro, as suas vidas, as suas histórias feitas minhas, para sempre.
A Vila.
Na tua voz, a Vila era o meu castelo, e eu a viajante de caminhos de terra e pó e sonhos. Nos muros caiados, no postigo entreaberto, na margem do Rio. Na rua empedrada e na igreja. No outro lado do Rio. Em cada laranjeira, cada rosmaninho, cada amendoeira. Estão as histórias que me contaste, está uma paz quente com cheiro de eucalipto, está a minha paixão pelo mundo que me ofereceste. A Vila bonita que guardo sempre do meu lado, para onde fujo, mesmo em pensamento, quando a vida de menina crescida me traz algum mau momento. A Vila que tem uma luz clara, única, de onde se vê mais longe, a Vila que ri e dança e abraça gente sábia, bonita, verdadeira.
O meu banquinho recolhia, as portas fechavam, e eu ficava a sonhar com o próximo dia, certa como tu, de que o dever estava cumprido. Como agora que te homenageio.
Dei o teu nome ao meu filho! Diogo! Para te dizer com um gesto, que guardo tudo, com amor, com gratidão!
Tenho tantas saudades tuas!
O banco levemente castanho, corrido de porta a porta, onde te sentavas orgulhoso, tinha no meio um segredo, um braço largo que descia e se transformava no meu banquinho. Ali sentada, orgulhosa, registava cada bocadinho de ti, do teu carro, apaixonada pelo vento quente que trazia sempre um cheiro a eucalipto que me acalmava, pela tua voz sábia que me contava histórias de cada monte, cada vale, cada caminho.
A meio da noite, o telefone tocava, uma chamada. A casa iluminava-se, com esmero e dedicação tudo se transformava. Era uma chamada. Cheirava a café, a manhã.
- Avó, posso ir ??
À noite nunca podia, porque à noite, quando o táxi era chamado, a história dessa noite não seria para uma menina, hoje percebo.
Mas uma noite deixaste-me ir, fomos ao Álamo, era pertinho. Foi a primeira vez que vi no horizonte de uma noite escura, as primeiras sombras claras do nascer do dia. Na viagem de regresso trazíamos no banco de trás, uma senhora linda, com um lenço negro na cabeça e um sorriso. Quando não estávamos sozinhos, eu ficava em silêncio a ouvir-te.
Marcou-me o respeito, a perseverança, a tua luta. Os valores que te edificavam, tão altos, tão bonitos, tão verdadeiros, tão meus. Marcou-me a melodia que assobiavas. Marcou-me a terra que tão bem conhecias e da qual me inundaste, marcou-me a gente sofrida que ajudavas com o teu carro, as suas vidas, as suas histórias feitas minhas, para sempre.
A Vila.
Na tua voz, a Vila era o meu castelo, e eu a viajante de caminhos de terra e pó e sonhos. Nos muros caiados, no postigo entreaberto, na margem do Rio. Na rua empedrada e na igreja. No outro lado do Rio. Em cada laranjeira, cada rosmaninho, cada amendoeira. Estão as histórias que me contaste, está uma paz quente com cheiro de eucalipto, está a minha paixão pelo mundo que me ofereceste. A Vila bonita que guardo sempre do meu lado, para onde fujo, mesmo em pensamento, quando a vida de menina crescida me traz algum mau momento. A Vila que tem uma luz clara, única, de onde se vê mais longe, a Vila que ri e dança e abraça gente sábia, bonita, verdadeira.
O meu banquinho recolhia, as portas fechavam, e eu ficava a sonhar com o próximo dia, certa como tu, de que o dever estava cumprido. Como agora que te homenageio.
Dei o teu nome ao meu filho! Diogo! Para te dizer com um gesto, que guardo tudo, com amor, com gratidão!
Tenho tantas saudades tuas!
3 comentários:
Tão bonito minha mana.
Ia lendo, ia lembrando...
Somos grandes...
E hoje, esta imagem que descreves faz parte de nós, em espaços diferentes, importantes.
Tambem tenho saudadades deste nosso avô.
A vida é feita de pessoas e existem pessoas que nos estão coladas à pele...pessoas que foram tudo...que são tudo!
Beijos
Mulher, tu és de uma grandeza assustadora! Tu és boa pessoa, amas e és grata. Tu não te esqueçes...
Chorei desalmadamente a ler este texto. Só quem escreve com tanto amor é que consegue transmitir tudo. Até eu me sentei no banquinho secreto...
Um abraço grande!
Enviar um comentário