A maior parte das meninas sonha em ser mãe, quando brinca com as bonecas, com as amigas. Durante vários anos vai interiorizando imagens, olhares, sorrisos, lições, palavras... que um dia mais tarde irá com certeza recordar e fazer suas.
Nos primeiros anos de vida, começando nas fraldas, nos banhos, as doenças, os "nãos", tudo é único e diferente, porque desses anos não guardámos nada, porque nada recordamos.
Ontem quando fui dar um beijo à Florinha ela perguntou-me o que era estar dividido, expliquei-lhe... quase automaticamente senti uma lágrima a querer fugir dos meus olhos... estava eu a recordar. Um dia alguém me disse que estava dividido. Continuei a recordar.
A minha primeira grande paixão.
A primeira verdadeira despedida dos colegas.
A paixão não correspondida.
A traição da amiga.
A sensação de injustiça quando um qualquer professor nos apelida de algo falso.
A dor imensa que, na altura, parecia insuportável. Os concelhos irritantes dos mais velhos.
O gozo irritante dos mais velhos.
Hoje vai ser o dia da despedida de alguns amigos do 4º ano, nenhum vai para a escola da minha Flor. A sua paixãozinha, que eu acompanho em silêncio há mais de quatro anos, vai ser hoje o dia da despedida.
Pela primeira vez ela viu-se confrontada com um sentimento único, o friozinho no estômago, os olhares, as palavras... tão bonito, tão intenso e tão doloroso. Por outro lado, e cá está a diferença de gerações, eu sonhava e sofria em silêncio, hoje, ela, deixa-se levar por uma histeria colectiva e feminina das amiguinhas. As referências pop star e Hannah Montana, não a deixam fraquejar, não pode mostrar que sofre, tem que mostrar a imagem superior, para depois à noite, chorar. Acho que irá aprender sozinha.
Um dia disse-lhe que deveria ser verdadeira com ela e com o mundo, sofreria menos. Não é assim tão fácil, tão recto, tão simples.
Gostava que ela acreditasse que as verdadeiras amizades, se lembradas e cultivadas, manter-se-ão para sempre. Não acreditará, como eu não acreditei.
Gostava que acreditasse na vida que tem pela frente e não se agarrasse a este momento difícil, mas não, nem eu acreditava.
Pensei deixá-la, na escola, hoje até mais tarde, para que tivesse tempo... Acabei de saber que tenho visitas para jantar e dormir. Resta-me o red line, ir às compras, ir buscar o Pirolito, e esperar que a festinha de final de ano, que elas próprias organizaram, tenha sido fantástica e que ela tenha aproveitado para não deixar nada por fazer, nem por dizer.
Maravilhoso e impotente, este sentimento... Maravilhoso aprender contigo minha Flor!
3 comentários:
Quem me dera ter uma filha
:)
Olá! Cheguei aqui pelo blog da Belita. O teu comentário sobre teres uma filhota a ir para o 5º ano fez-me vir até cá.
Também tenho uma filhota que vai para o 5º ano e um pequenito de 2 anos e meio (não sei que iodade tem o teu filhote, ainda não li tudo com atenção).
Se quiseres espreitar o meu cantinho, manda-me um mail para 4raiosdesol@gmail.com.
Terei muito gosto em convidar-te.
Em relação ao teu post, a minha Mónica também vai para uma escola nova e sem nenehum coleguinha. ao longo desta semana serão as despedidas a sério, e acho que lhe vai custar muito. A mim vai-me custar muitíssimo!
Um beijinho.
Gosto dos teus textos e da forma como os escreves.
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