Meu amor:

Escrevo-te porque receio as tuas questões, receio os teus argumentos que vivem também em mim. Escrevo-te porque receio perder este sol que me aquece o rosto agora, agora que decidi.

Sou a mulher, a filha, a mãe, a neta. Sou a amante, a boazinha, a má da fita. Sou a responsável, a empreendedora, a complacente. Sou a escola e a casa e o jantar. Sou as manhãs, o carro, as cantigas e as lágrimas. Sou o suor, a lareira e o deitar.

Depois, sou a solidão. A imagem no espelho suplica...

Hoje vou partir. Sem medo. Sem culpa.

Vou escolher um qualquer ponto no mapa e vou deixar-me ir. Desta vez vou só eu.

O que deixo, deixo em pausa, para que me receba quando voltar! Quero caminhar, subir serras, enterrar os meus pés na areia quente ou no mar frio. Quero mergulhar num qualquer rio, num qualquer ponto do mapa e deixar-me levar pela corrente. Quero dormir e sonhar e acordar num sitio quentinho feito de memórias ou apenas deslumbrante e desconhecido.

Não abandono, não! Nunca o faria. Sabes que nunca o faria. Tenho em cada poro da minha pele, em cada rasgo da minha alma, esta vontade de me ver... Não quero encontrar-me porque não me perdi, não quero fugir, nunca o fiz. Quero apenas vaguear... sem peso, só eu...

É um sonho. Voar, acima de normas e regras. Por cima do tempo, por cima do espaço. Conseguir depois materializar-me numa integridade que me faz falta. Num qualquer ponto do mapa.

Talvez nem percebas, talvez quando chegares eu já aqui esteja.

É um grito do meu peito para que pare de ser tudo e, seja só eu, só por uns momentos.

Amo-te, até já.

1 comentário:

Alda Couto disse...

:):):):) Não me ocorre mais nada a não ser sorrisos :):) Lindo texto :)