Falta-me o espaço e falta-me o espírito, o mundo corre à minha frente e eu não o consigo apanhar. Há dias em que eu cresço dentro do mundo, há dias em que o mundo me destroça e me amassa e eu fico quieta...
Queria alguma paz...
Falta-me o espírito, a alma, a paixão. Tudo corre em mim como o sangue que tem de correr, sem garra, sem festa! Cada grito de dor é calado por mil palavras de desaconchego, cada lágrima de dor é seca pelo tornado de vidas idiotas que enchem tanto os meus dias. Quero o espaço, quero a alma, quero querer...Cada passo é manchado por palavras, cada choro é traído por risos falsos... Queria ser chão de terra e luz... apenas... para poder receber o calor do sol e simplesmente agarrá-lo, só para mim... e depois... acordar repleta de mim como me conheço, sim... é de mim que sinto falta, não sei onde ando, sei que me quero!

Mais um hoje

Por muito difíceis que sejam as decisões, quando as tomamos e as pomos em prática, fica em nós aquela sensação de paz, de dever cumprido.
Quando as nossas decisões afectam outros, cabe-nos assegurar que essas decisões tiveram o efeito que esperávamos. Este é o bla bla bla...

A realidade é que não é mais possível manter o Diogo num colégio, a crise e o raio que a parta... O Diogo é o meu menino sensível, sim ele é sensível, hoje perguntou-me porque é que eu me preocupava com ele... eu expliquei e ele respondeu: - Mas mãe, eu preocupo-me mais contigo do que comigo, por isso não te preocupes também. Durante toda a noite fez-me perguntas, as mais lindas, as mais sinceras, as mais preocupadas, todas a que eu respondi:... Eu vou estar lá contigo! O Diogo é o gigante que aceita os efeitos da crise e depois, lá no seu mundo pergunta como será que vai ser... E eu não sei, sei apenas que estou aqui para o acompanhar. Hoje joguei à bola e brincámos à apanhada... O Diogo vai para uma escola grande, com muitos meninos, acabou o mimo das meninas que o carregavam no colo. O Diogo teve um excelente resultado no seu 1º ano, isso é bom...

O que mais custa??? Custa a incógnita, custa saber como vai ser, onde vai ser, onde há uma vaga... Custa olhar nos olhos daquele menino, ver o medo... A única coisa que quero é ser forte o suficiente para lhe mostrar que a vida está só a começar e que ele vai ter mil amigos, e eu... vou estar sempre ali, basta chamar....

Amanhã vou saber onde há vagas...
Eu tenho um filho tão maravilhoso... Como o Pai...

Na quinta vamos a mais um ortopedista, este recomendado pelo prof avô. Por mim chega... pelo meu Diogo também...


"Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!"

... Soubesse eu que me escutas, Mãe!
Que no teu balbuciar que não entendo,
quando não me respondes,
eu perceber que não és outra, não me enganas, não te escondes!
Beijo-te as mãos e o rosto e sinto frio.
Por detrás do terror deste vazio
O da perda que já sinto, porque vais deixar-me.

Inerte na ponte onde o mistério da vida te acolhe
sacia meu egoísmo, diz-me que me escutas
quando afago as tuas mãos que definham,
acaricio os teus cabelos, no olhar perdido do adeus,
jurar-te ao ouvido que não poderei esquecer-te.
Porque serás eterna para todos os que deixas e te amam."
 
 
Escreveu o meu Pai, estas palavras que também me cortam a alma...