Ali

Mesmo no fundo, escondida debaixo de correntes e ventanias e olhares e palavras, apesar das tempestades de areia que cegam, apesar da velocidade que obriga a suster a respiração. Sei os passos a dar, para seguir até ao rio e dele inundar a minha alma.

Estes dias foram confusos, estados de espírito que ultrapassam o entendimento de quem precisa entender-se.

Hoje sinto-me melhor, muito melhor. Ultrapassado o medo de não estar a controlar nada, apesar de agarrada ao leme, fica um pequenina paz que reconforta e me traz de novo a mim!

Orgulhosa de mim como sou, arrogante nas minhas convicções, sou também honesta comigo mesma, e aqui aceito que há lutas na minha vida que, por desconhecer quem me ataca, me deixam vulnerável e, nesta luta há que hastear uma bandeira branca e pedir ajuda.

Foi um momento mau, que já sinto distante, pelo qual não queria passar outra vez.

Circe


Sou verdadeira, dou-me sem reservas... Por demasiadas vezes dei-me a quem me quis roubar sentidos, por demasiadas vezes surpreendi-me com a distância que me separa de tantas pessoas. Magoa, faz crescer. Devia aprender a não confiar tanto, devia aprender o quão malévolas certas criaturas podem ser...
... mas acho que sempre preferi acreditar, dar-me e acreditar que o que me dão é também verdadeiro. E é por acreditar, que com saudades me despeço de alguém que cruzou a minha vida e vai ficar aqui na minha alma. Alguém que também se deu, verdadeiramente.
Uma despedida simbólica, apenas no espaço, no hábito, no dia a dia. Um até já!
Obrigada,
"O grito do falcão é "circ-circ" e é considerado a canção mágica de Circe, que controla tanto a criação quanto a dissolução. Sua identificação com os pássaros é importante, pois eles têm a capacidade de viajar livremente entre os reinos do céu e da terra, possuidores dos segredos mais ocultos, mensageiros angélicos e portadores do espírito e da alma."

Veredicto


- O problema é que me deixei enganar pela sua força, pela sua boa disposição, pela forma como encara esta fase da sua vida! (Dr. House inspirado)
Insisto na minha força, na minha determinação. Insisto em racionalizar, questionar, responder!
Depressões, esgotamentos, bipolaridades e coisas do mesmo calibre estão para mim associadas a quem não tem muito com que se ocupar, a fraqueza, a pieguice.
Não! Não sou piegas. Não me queixo facilmente!
- Podemos saber muito pouco deste novo fármaco, sabemos sim que a depressão é frequente! Já devíamos ter falado sobre isso. (Mais uma vez, a inspiração do Dr. House)
Sem dramas! Com algum mimo, com uma tentativa bastante eficaz de desmontar a minha ideia sobre depressões. Cá estou eu, a sentir o que diz na página 148 do "consentimento esclarecido".
Aqui no fundo, se eu for honesta, com uma lágrima no olho, tenho que baixar a guarda e assumir, não estou nada bem! E isso está a afectar tudo, e eu não vou deixar.
Mas lá fui pedir ajuda... Ouvi mais uma vez um mimo... Sou forte, lutadora... e eu sei disso!

Hoje

Não é promessa, é determinação. Assim o sinto agora que acordei e o sol encheu-me a alma.

O que tenho garantido posso por em segundo plano.

Lutar mais um bocadinho por o que me pode trazer um Domingo feliz... Isso posso fazer!

Afinal é assim ...

Amanhã deixo tudo noutras mãos!

...



Num tom baixinho e decidido, com aquele sotaque Algarvio, palavras ligeiras e despachadas, disse:

- Tita, vem comigo, quero mostrar-te uma coisa.

Devagarinho abriu a porta do armário, fez um sorriso sincero e com o olhar certo e orgulhoso mostrou um fato negro bem engomado, por cima de uma camisa branca de colarinhos bordados.

- É com esta roupa que quero ir quando morrer!

Tita estremeceu, desviou o olhar da roupa e um calafrio percorreu-lhe o corpo, quis fechar a porta do armário, quis afastar a ideia, mas também quis estar à altura. Quis aceitar o que ouvia com a mesma determinação, a mesma serenidade.

- É lindo Avó.

Será paz? Será sabedoria? Será cansaço? Será uma devoção tamanha por aquilo que durante uma vida inteira lhe preencheu os vazios, lhe trouxe esperança, a fez ter fé? Que orgulho é esse por morrer bonita? A fé traz essa serenidade?

Será aquele quentinho que Tita sentia naquela casa rodeada de terços e imagens de santos e velas e orações? Apesar da sua crescente incredulidade?

Será paz?

Serei eu capaz de lembrar essa paz, quando a saudade cruel me fizer chorar? Saberei eu ainda aprender a reconhecer essa paz quando for egoísta e achar que perdi alguém?

Depois

Gosto de ler palavras bonitas, gosto de rir, gosto do meu humor sarcástico, gosto de escrever o que me alivia a alma.
Há uns dias que me sinto vazia de tudo o que gosto em mim. Porque não me sinto bem talvez.

O espaço que dedico ao obrigatório enche o pouco que tenho disponível. É muito!

O obrigatório vai-me dando os sorrisos.

Até lá, acho que vou ficar em silêncio, a ouvir apenas o essencial, porque me sinto vazia de mim. E se eu estou ausente de mim, para quê escrever?

Eu sei que pode ser mesmo assim, "normal". Aliás, já sabia que podia ser assim. Não sabia que este vazio me ia fazer tão mal.
Já decidi pedir ajuda! Caso de sucesso ou não, preciso de me ter de volta... Porque sou precisa para duas pessoas maravilhosas que contam tanto comigo.

Segunda feira volto ao Dr. House. Até lá deixo-me estar. Aqui!

agora...

Era:

Uma lareira.
Tu.
Aquela música.
Uma manta e a chuva lá fora!

e tempo, muito tempo, para estar, agora!

Gosto tanto...

Já não me lembrava...


Quando no 5º ano, todos os mais velhos me passavam à frente.
Quando me intimidavam! Quando me roubavam a bola de Berlim que tinha comprado no Bar escapando a todos os que me empurravam. Quando à saída tinha medo de ficar sozinha. Já não me lembrava de quase nada, até ficar quietinha a ouvir as histórias da minha Flor.
Só o silêncio dela me perturbaria...
- Mãe, sabes o que andam a fazer lá na escola? Os miúdos mais velhos sopram-nos para a cara e dizem que têm gripe A.
Tão igual ao mundo dos crescidos... Tão igual!

...

E o dia começou quente.
E ele lá estava a cantar. Para mim?
E hoje sinto-me calma.
E hoje quero ficar assim.

Sou tão inconstante... e isso quer dizer o quê?

Querido diário

Na manhã não houve percalços, nem sol, nem canto de nenhum pássaro. Houve risos e choros, e o tempo a correr.
Ontem pensei em desistir, até o disse alto, quem me ouviu ficou em silêncio. Hoje pensei novamente em desistir, mas senti de imediato que não teria coragem. Porque há tantas incógnitas.
Cheguei nervosa, como sempre, odeio tirar sangue, já me conhecem e tratam-me bem. Sento-me, a querida enfermeira Paula pede uma almofada para o meu braço. Diz que tenho que fazer terapia ocupacional, fico a agitar os onze tubos até vir o 12º. Faz-me rir, faz-me sempre rir e em mim solta-se a veia brincalhona, rimo-nos um bocadinho. Hoje não vi nem quis ver, normalmente gosto de observar as pessoas, imaginar as suas histórias, as suas vidas, hoje não, apetecia-me ir embora e dizer que não voltaria mais.
Dr. House não estava, ainda bem! Apetecia-me falar do meu cabelo, da minha cabeça, na minha fraqueza. Dr. House não deixa, cinge-se aos factos ... Esses fazem de mim um número:
Paciente 4606 está a reagir muito positivamente.
Veio a colega da equipa ...
Desmontada a dor e a febre e o cabelo... não restam muitas respostas. Restou um alerta...
Que eu não me iniba de pedir ajuda, que eu não me importe de dizer que estou:
Triste
Confusa
Derrotada
Que me apetece chorar
Que esteja atenta a depressões,
Porque é normal!
E eu, qual padeira, insisto em guardar numa caixinha de tempo, contando os meses que faltam para abri-la, a tristeza, a confusão, a memória, a fraqueza e as lágrimas que tantas vezes me forçam a contê-las.
Não desisti, prefiro que este seja um mau dia. Diferente da noite de ontem cheia de velas. Diferente de do amanhã cheio de risos e até de cantos de pássaros.
E assim fico atenta... e dedico-me a tudo o resto e à maravilhosa ideia de ser um caso de sucesso!
E acabei ontem o livro "O rapaz do pijama às riscas" E fiquei deprimida, como ando a ler livros da minha Flôr, hoje começo a ler o "Diário de um banana".
E se ler novamente o que escrevi, fico convencida que o meu estado psicológico deve ser realmente grave.
Alegra-me pensar que um dia poderei achar graça a tudo isto!

4606

Desabafo puro!
Estou magra, o cabelo já cai há um mês, dói cada músculo do meu corpo (e são tantos). Se eu achava que os ossos não doíam desenganei-me, doem e estalam. Sento-me e canso-me, levanto-me e preciso sentar-me. Ando enjoada, com os nervos em ponto de caramelo.
Decidi há uns tempos não me queixar, a verdade é que a coisa está a resultar, mas preciso, preciso tanto fazer queixinhas!
Segunda feira mais uma visita ao Dr. House (que se está nas tintas para o meu cabelo e a minha pele), sim, o homem é hepatologista, quer lá saber de merdices de cabelos. No que lhe concerne, sou um sucesso!
Descobri uma dor, não a consigo definir, Dr. House diz levemente: "deve ser da anemia". Ainda não passaram quatro meses.
Acho que este Inverno vai ser cinzento! Não me queixar ajuda, porque as queixinhas não me fazem sentir melhor.
Fica só o desabafo, querer ser forte até me engana, mas agora que os miúdos dormem, sentada neste sofá, queria tanto sentir-me bem. Sentir vontade de ter deixado os pirolitos na avó e estar a ouvir uma bela duma musica rodeada de gente gira!
Assim durmo e descanso, porque isso sim, ajuda.

Pareço mesmo uma velha! Nem a merda do texto me faz sentido. Vou mas é dormir.

Recebi um abracinho ....


Recebi um abracinho assim bonito, de alguém que eu gosto muito de ler... É a primeira vez e a sensação é engraçada...
Não temos um rosto, não se conhecem olhares nem expressões, nunca ouvimos os sons, nem vemos os sorrisos. Somos apenas o que escrevemos, conhecemos apenas o que lemos ... Engraçada é a sensação que me fez sorrir ao receber este "abraço".
Os meus abraços são assunto sério, não dou abraços facilmente, não gosto de mexer, nem gosto que me mexam (com as óbvias excepções). Um abraço tem entrega e significado e tem que ter paixão, envolve uma troca...
Agora as perguntinhas:
Quem mais gostas de abraçar, no presente? O gajo mais lindo, mais espectacular que existe, que mais enche a minha vida, o meu herói.
Quem nunca abraçarias? Os que negam abraços a quem tanto precisa.
A quem davas tudo para poder abraçar? A todos os que quis abraçar e não abracei.
A quem davas o teu melhor abraço? A quem me enche de abraços e sorrisos, todos os dias, a toda a hora, os meus amores grandes.
E agora a distribuição de abraços:
A sensação foi muito engraçada, foi... mas deu um trabalhão, os links devem estar todos trocados...

Nós

Tens um dom...
Quando me ouves pensativo, quando me fazes rir e me abraças.
Quando me deixas falar e chorar e divagar nas minhas confusas teorias e me respondes com a verdadeira simplicidade.
Quando te escolho para descarregar os meus estados de neura e tu aguentas sem reagir.
Quando estou zangada e me animas.
Quando quero mimo e percebes.

Quando resumes em três palavras os meus dramas e os puxas para terra e logo os explicas e justificas e resolves.

Quando não estás aqui, mas te fazes sempre sentir.

És uma pessoa única e maravilhosa!

Amo-te Pedro.

...


Gritaram, nesse dia, eu não era especial e diferente!

Nesse dia eu era, afinal, igual a todos os que ali estavam.

Noutro dia afastei-me e marquei a minha diferença, nem sempre positiva, mas minha. Nesse dia decidi, é minha aquela estrela.

Em tantos, tantos dias, vagueei na linha ténue que separa a minha diferença da facilidade das máscaras.

Sob a luz dessa estrela, grito, agora, sou sim! Sou especial e diferente!

apetece-me

Mais de mãe...

Muitas vezes, escondo-me ali num qualquer cantinho, bem fechada, enquanto me transformo em imagens...
Há que fazer rir a criança que na imagem do espelho retrovisor treme o queixo, porque não quer ir para a escola.
Há que estar atenta à criança que leva o olhar longe, distante, e que em silêncio também está apavorada. "Ontem uns miúdos mais velhos empurraram-me", "Não consigo ir à casa de banho lá na escola, está sempre tanta gente, tenho medo de ficar fechada".
Há que florir e pintar e sorrir... Há que somar a esse sorriso a espada que a protegerá desses medos...
Depois cheguei aqui, fui buscar-me ao cantinho onde estava fechada e tentei acreditar que não posso evitar que eles cresçam assim, com um bocadinho de dor.

é verdade!

Quase três anos !!!

Os telefonemas não param, mas estão mais espaçados!
As cenas tristes continuam, mas menos rebuscadas!
A puta triste continua ali, mas eu já quase nunca a vejo!

Ou seja, está tudo bem ! Porque me sinto feliz! Só me chateia esta eterna questão?

- Que raio move esta figura triste ? Não terá mais que fazer?

(Cá está um verdadeiro desabafo, sem o minimo interesse e que me fez perder três minutos)

Pensei, pensei e saiu-me isto...




O meu espacinho... pois que é MEU, pois que gosto de aqui despejar o que sinto, pois que gosto da liberdade de aqui escrever sem pensar em eventuais criticas ou reacções ou susceptibilidades.



Neguei este espacinho a quem pediu para o ver, porque é MEU e porque não escrevo para ninguém, escrevo para mim, porque quando estou sozinha, como tantas vezes estou, me faz bem!



O meu 26º seguidor !!!!!


É a minha filha!!!






e agora????
Posso mudar o blogue!

ou posso simplesmente assumir que não me considero a mãe típica. Sou atenta, sou exigente nas regras, na educação, nos valores, nos princípios. Não quero que a minha filha me veja como perfeita, como simples educadora. Não pretendo pertencer à associação de pais da escola, conto-lhe segredos, guardo os que me conta. Mostro-lhe as minhas fraquezas, conto-lho o que me envergonha, sou disparatada. Mando-lhe mails que as outras mães não acham próprios. Falo-lhe sem tabus, de tudo!

Sinto-me tantas vezes uma miúda, gosto das amigas dela, torço pelas suas paixões, falamos mal das vizinhas e até das professoras. Ontem falámos de orgasmos, vi-a atenta a ler um artigo sobre violações. Fiquei entusiasmada quando me contou que tinha um namorado, apesar de ter sido só por um dia. Chego muitas vezes a ser censurada por ela por me portar como uma miúda. Gosto de Katty Perry, ouço a Hannah Montana, adorei os HSM.
Hoje fomos para a nova escola, eu estava nervosa e disse-lhe. Mal virámos costas ao novo director de turma comentámos eléctricas... " O homem é gay!!! e qual o problema?"
A minha Flor é uma pessoa maravilhosa e eu tenho o maior orgulho em saber que ela lê os meus desabafos.

Teremos uma regra...
Não me vou condicionar... nem na linguagem, nem nos assuntos !! Reservo sempre o direito de a qualquer altura, não ser obrigada a explicar seja o que for acerca de coisas que escrevo. Deixarei o tempo mostrar-me a altura certa!
Porque haverá sempre tanto que escapa, ao meu e ao entendimento dela.
Ninguém me ensinou a ser mãe. Sou a mãe que sei ser, sou o melhor que sei...

Para ti Mariana... Tenho tanto orgulho em ser tua Mãe!

...

Para a Matilde

Passaram os meses e tu, Matilde , continuaste sem fraquejar.
Se damos verdade abrimos uma porta para que outras verdades nos sejam oferecidas. Se nos despimos dos trajes conseguimos alcançar a nudez na alma de alguém. Nem sempre será tão simples, talvez nem sempre aconteça, valerá sempre essa aposta. Porque cá dentro se irá apagar um pouco de medo, porque nos sentiremos maiores.
Deste-me uma lição de vida que ainda nem consigo entender bem, mas chorei quando hoje me ligaste e me disseste que a TAC estava bem. Fico tão feliz!
Prometo o champagne, prometo arranjar todos os tipos de caranguejos que existam em Portugal para os aniquilar-mos.
Fico tão feliz... e tu sabes!

Histórias



Sempre que subia a escadaria de pedra, Tita já adivinhava a algazarra que a esperava. As vozes eram sempre estridentes e alegres, os sorrisos inundavam o primeiro andar. Cheia de abraços e beijos, muitos beijos e apertões. Tita nem sabia por onde começar. Lá fora, as bicicletas com os pneus cheios de ar que o avô tinha preparado para ela na oficina do Manel Jesus. Lá fora estavam as férias, os amigos, as brincadeiras, o rio e a avenida.



Na cozinha havia sempre aquela lata redonda, amarela e azul com uma menina pintada, lá dentro estavam os bolinhos de amêndoa. Na dispensa estavam os rebuçados, e as costas doces ou com torresmos num alguidar azul cobertas com um pano branco. No quarto a cama grande com o terço e os santinhos, onde a avó a adormecia com histórias do menino Jesus. O calor que fazia sempre tornava tudo ainda mais especial. O pó da rua, o vento quente, a azáfama constante na cozinha, o silêncio escuro na hora da sesta obrigada.




(... Cheguei cansada da viagem, subi a escada de pedra e ouvi o silêncio e senti o cheiro de roupa guardada e de naftalina. Cheiro de casa fechada, sem forno, sem bolinhos, sem flores.

A culpa atormentou-me mas desvaneceu-se na aceitação do tempo, da idade. Mais tarde, à noite, num rasgo de lucidez, a avó disse-me: - Ai Tita, a vida devia ser mais longa...)



Sentada na varanda, Tita ansiava pela voz, pela música de outrora. Era tarde, estava cansada. Cansada principalmente das insistentes perguntas, sempre as mesmas, reveladoras da incontornável velhice. Ansiava pela algazarra, por uma chávena de chá com bolinhos de amêndoa. Desceu devagar da cadeira, sentou-se no chão envergonhada e olhou ligeiramente para cima, de encontro ao olhar daquela mulher linda. Sábia de vida, sábia de histórias, e perguntou:

- Avó, como era quando eras menina?

E assim ficou, sentada no chão, vergada perante a grandeza de uma vida. Ouviu em silêncio, palavras de dor, de luta. De amor e preserverança. De alegria. Histórias de fazer pão, histórias de guarda rios, de caminhos e andanças. Memórias claras de nomes e datas, numa mente velhinha cansada de velhice.
Tita conteve todas as lágrimas, de vez em quando fazia uma pergunta ou outra, tentava que aquela voz fluísse sem se perder no hoje.
Falaram de outros tempos, muito, muito antes do tempo em que Tita era a primeira a subir a escadaria de pedra.
No fim, a imensa tristeza de não haver mais tempo, porque a vida da avó Maria deixa uma saudade marcada no peito de quem a conhece.
No fim apenas gratidão. E paz!

Vou mesmo comprar aquelas caixinhas com gavetinhas, tudo dividido por dias da semana.

Conclusão:

As caixas das pílulas têm escrito os dias da semana, exactamente porque a malta não se lembra se tomou ou não....

São muitos frascos, não me lembrei se tomei à noite. Contos os da manhã... e há a mais???? Ou me esqueci de tomar de manhã, e não esqueci... ou tomei a dobrar à noite ??? Como?? se os contei porque não me lembrava se tinha tomado à noite???

Consola-me saber que há 25% de hipótese de isto acabar aos 6 meses....

...


"Abandonando nobremente quem nos deixa, colocamo-nos acima de quem perdemos."

Madame de Stael

Emoções

Desvarios da minha razão, sensações libertadoras e desprovidas de sentido.
Sou emotiva sim, toco o irracional.
Mas que melhor há do que me despir de conceitos e imagens, alhear-me do mundo e sentir, sentir, sentir ?
Tinha saudades de estar assim, comigo, hoje cheia de mimos. Maravilhosa essa habilidade que conquistei de mudar simplesmente de perspectiva...
Esse homem que tanto amo insiste em ensinar-me a ser prática, a simplificar... insisto em dizer que não quero... quero sentir, mas a verdade é que o simples que me rodeia tem uma imensidão desmedida, e sendo prática, vou só sentir essa imensidão. É simples!

Simples e imenso, pudera eu decidir com o que sonhar esta noite... Seria assim...

Para ti... Mana

Daqui a uns minutos tenho 37 anos, não gosto sabes? Acho até que este assunto do "crescer" ainda me vai fazer divagar...

Cresci ao teu lado. Cresceste comigo.

Tens um feitio muito mau mana! És difícil, reages, quando reages és injusta, chegas a ser egoísta. Quando chegas, com os lábios cerrados, zangada. Quando não ouves!

Mas...

Estamos juntas há 37 anos, ou talvez 36 e umas horas... Detesto o 37!

Quando há uns dias me mostraste aquele sitio lindo na Serra, o teu sitio... quando desliguei o carro e ouvi o vento, senti uma dor no peito, uma angústia, um medo... Senti-te mana!! Estás a sofrer e eu sofro contigo.

Tens dentro de ti, o que está dentro de mim. É algo grandioso, aprendido e cimentado. Entre a areia da praia e as águas dos rios. Entre as bicicletas e o beliche. Entre avós e mimos. Sermões e palmadas. As viagens e o Jackie. A escola, as lutas, as quedas. As mentiras e o silêncio. Fizemo-nos assim, lado a lado. Sei-te e vejo-te e sou contigo! Ouço-te em sorrisos e lágrimas.

Tens um sorriso tão lindo mana.

Sabes? Não existe quem tu procuras, ou talvez exista... A exigência que te pauta requer um principio, uma meninice. Requer grandeza no horizonte, no interior.
Vida? qual? aquele caminho cheio de curvas e luzes e escuridão, que muitas vezes passamos a correr atrás da ambição de um vislumbre de mar? O caminho que vês afunilado por sombras e que queres tanto, porque há árvores que te protegem, que nem reparas num ou outro trilho, mais parecido contigo, mais real, mais teu.

Caminhos os nossos tão cheios de tudo! Quantas vezes tão cheios demais, que nos trouxeram até aqui. E agora? Não vês os tijolinhos amarelos? Eu vejo-te ali rodeada de espantalhos, leões e homens de lata. Tão linda, tão menina, tão cheia de vida.

Vai correr tudo bem.
Vai correr tudo bem.

Pudesse eu em mil palavras descrever-te, quem as lesse iria amar-te. Como eu te amo!

Não permitas magoar-te mais, não mereces.

e Parabéns para mim... e para ti também !

Pirolito


Pirolito também muda de escola, mas esta eu conheço...
Não me safo de um belo berreiro! Daqueles que eu sei que passam logo!


Minha Flor!


A minha Flor vai entrar numa escola nova, uma escola grande. Ficou à tarde, não gostei.
Não gosto de como se dividem turmas numa escola. Não gosto de sabe-lo. Ela está com medo, está ansiosa ... e eu sei tão bem o que ela sente! Também tenho medo.
Flor é crescida, é crescida no seu conteúdo, no conhecimento, na responsabilidade... é menina nas emoções, como deve ser, como tem que ser. É menina em sonhos! Que essa meninice permaneça.
E eu ... falo de realidade, com uma brisa de sonhos, a que for possível, para que cresça e sonhe!
Acredito tanto que vai tudo correr bem!

As férias acabaram...

Ficou o ar fresco, a alma quentinha...
... o que mudou, que foi tanto, será o melhor.