Sem imagem porque sem paciência... não era minha mesmo!

Daqui da minha janela, vejo o céu mais lindo... Não há luzes a ofuscar, nem sons, nem coros, nem imagens. Está tudo ali, na minha janela, o mundo que materializo lá fora. Fecho a janela e fico comigo... Ontem, chego a casa zangada, o miúdo quer o que eu não tenho, a miúda quer o que eu não posso dar. Fico frágil, desgastada, zangada, sofrida. Pedem tanto de mim. Sinto-me fraca, zango-me comigo, devo ser forte, trato de tudo, até ao silêncio da noite... Mesmo assim o miúdo chora e chama-me, nem sei o que quer, serão sonhos? Choro pela solidão, choro pela impotência, choro pela mágoa, choro pela ânsia de estar só, choro pela alegria de não estar só... E se afinal eu apenas sou um ser assim, cheio de tudo isto? Acordo neste dia tão bonito e tão quente, acordo cheia de energia para abraçar todos os pequenos seres que de mim precisam, não os meus filhos, esses precisam de mais, mais do que só esta Inês... essa é a mãe! Queria que o mundo parasse aqui, neste segundo, quando eu me sinto elevar por uma estrela que ameaça fugir... Num momento sou o sol, num momento sou o mar e depois vem aquela tempestade... "desculpa estar assim" " Quando estás assim, o melhor é eu ficar calado e quieto... Eu sei... eu sei! Num momento choro, depois rio, depois tenho medo... Pergunto só... Onde andas tu Inês? Afinal o mundo só vê o seu mundo, afinal, só se interessam po eles, e eu n~so sou eles... sou eu!

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A pre-adolescente questiona:

- Mãe, o que é precariedade?

Eu levo uns segundos a tentar encontrar as palavras certas... nisto, o pirolito de 5 anos dispara:

- Isso é uma especie de gelatina verde, mas mais mole, e não é doce, tem assim um sabor a bróculos, ou espinafres... E desmancha-se em agua, é horrivel!

- Pois... é isso. - Pensei eu!

Hoje


Era miúda crescida, grande e sonhadora, tantas vezes descia aquela enorme ladeira de terra e tanto pó, sob o calor mais quente que esta terra nos dá. Sempre sozinha, na alma carregava a loucura duma adolescência citadina ofuscada de luzes e gritos. Descia a ladeira com a culpa do desaprovar de uns avós que de tão avós e de tão grandes não me queriam sozinha, não me queriam ali.
Ali era um sítio magnifico, onde o calor da descida da ladeira se transformava em água. Ali eu procurava o meu canto, aquele distante onde ninguém me poderia ver, e ali ficava sozinha e cheia de mim, em alturas em que o corpo pedia paz e a alma pedia vida! A água do Guadiana não é límpida, ali nas azenhas de Mértola ela tem um cheiro característico, acho que cheira a pedras e a musgo, a agua é quente e calma. A serra na outra encosta está cheia de contos tão ouvidos, cada pedra, cada caminho tem uma história na minha mente!
O Sol escondia-se e eu voltava... e subia a ladeira zangada porque mais uma vez era tarde, como sempre, era sempre tarde!
Hoje desci essa ladeira de carro, sem terra nem pó, não avistei o rio, porque não pude, antes do rio estavas tu, e hoje eu não me podia atrasar...
Naquele sitio perto da azenha há um pátio, há alguns carros, há umas construções simpáticas, há uma placa que diz "Lar".
Estavas sentada com o olhar distante, tão distante... Alguém sussurrava ao teu ouvido, não sei o quê mas não interessa porque estavas distante...
Aproximei-me, tirei os óculos, reconheceste-me passados uns segundos e eu abracei-te tanto, tanto, e a tua voz estremeceu e as lágrimas apareceram nos teus olhos... Afinal quem te sussurrava era para mim um estranho que nem deveria ali estar, apesar de ser o teu filho!
Voltei para Lisboa com a determinação de voltar a descer aquela ladeira agora feita de alcatrão e deitar-me a teu lado, como eu fazia nas azenhas, apenas para sentir a serra e o vento e o quente....
Desculpa avó, não te disse nada do queria dizer, mas disse o que sei que sentiste!
Vou voltar, vou voltar!

Tu, miúda

Chorei de felicidade uma única vez na minha vida, foi quando te puseram no meu peito, acabada de nascer...

Passaram 11 anos... Agora queres sempre competir comigo... queres que aceite que não sei nada das tuas coisas, queres que não me mostre porque sou doida, porque canto alto e danço, apagas os comentários que faço no teu facebook, pensas que sabes mais que eu, pensas que não entendo o que vives...

Reconheço meu amor, não sei! Lembro-me apenas da distância que senti da minha mãe... mas ela estava tão distante e eu sinto-me tão perto! Será que estás assim tão longe?

Falei-te da desilusão, das amizades, daquele grande amor que eu estraguei, da minha mãe. das
amigas, das falsas amigas....

Continuas a achar que não sei nada, apetece-me dizer-te que tu é que não fazes a mais pequena ideia do que foi a minha juventude, mas não posso... nem sei quando poderei!
Porque raio me enches com questões e situações que finges magoar-te quendo eu sei que tudo o que me tentas mostrar é a mentira mor...

Quero dar-te o que precisei com a tua idade, mas sei que não é isso que queres, é mais e eu estou aqui para to dar, mal sejas capaz de me explicar para que o precisas.

Depois olhas-me e sentes-me, eu sei... e eu ? que faço eu?

Com a tua idade eu queria se o melhor! Tu apenas queres ser o mais visto... Meu Deus há a realidade? Onde está ela?

O ser maior, que vingue, que seja sincero....

Choro sempre que te vejo, porque és linda e não imaginas o quanto isso te vai magoar!

AMO-TE!

Continuando...


Parece-me que tudo vai voltando ao normal, meu normal! Parece-me que está tudo arrumadinho, encaixotado ou mesmo espalhado no chão.

Por aqui vejo algumas mudanças de que gosto e, algumas dificuldades ultrapassadas, sabe bem quando o esforço é recompensado...

A Flor já vê o Axn comigo, está crescida e apaixonada e estamos numa fase calma, estamos mais próximas, quase amigas.

O Pirolito anda com os nervos em franja, os BayBlade estão esgotados e isso pode trazer o inferno a uma casa de família.

Agora vou deixar-me estar assim... e continuar talvez a escrever os disparates que me vão ocorrendo.

Para ti mana...

Afinal estás aqui, dizem milagre mas eu não sei o que isso é...
Decidi guardar as memorias para um dia mais alem... Um dia em que não sei quem poderá querer saber...mas estão ali...

Hoje deste-me uma felicidade maior, tu... porque estas ali, e a Camilinha...

E que posso eu esperar mais? Estas comigo e viva e estas tu, minha irmã.

Posso dar um conselho? Vive, mana, vive o milagre da tua filha, e da tua vida, não sei a quem agradecer... não sei se tu saberás...

Fiquei feliz... Desejo apenas que vivas cada momento... é único!

Para ti mana...

Criamos pontos na nossa alma... este é um deles! Sempre que queremos viajamos até eles... Lembras-te, uma viagem bonita no pulo do lobo... ou mais além!

Ontem acho que vi uma andorinha, sei que sorri! Da janela do escritório, aquela árvore encheu-se de rebentos e ficou repentinamente verde... E à noite, durante um bocadinho ouço aqueles bichos terríveis parecidos com cigarras que a mamã diz que são "ralos"... mas calam-se!

Isso é bom!

Por isto achei que podia escrever, por isto e porque acho que encaixei algumas das mil e umas peças deste puzzle que sobrevoavam o meu cérebro.

Mana...

Vi-te na maternidade, com a Camila nos braços, esbanjavas alegria, esbanjavas orgulho, apagavas a Mana insuportável da gravidez e ali estavas com o sonho tornado realidade... nós sabemos....

Depois morreste!

Morreste naquele minuto... ou tantos.... aquele médico foi tão odiosamente claro... E tu estavas ali... ao meu lado! Ele, médico odioso nem sabia se acordarias!

Perder-te foi demasiado doloroso... mas eu perdi-te mana! Apesar de estares aqui! Cada pormenor está escrito num livro que me obriguei a manter e que um dia, se precisares, é teu.

Perder-te fez-me entender o que sou sem ti, nem sei descrever o que isso é. Sei apenas que não temos essa opção, temos que continuar assim... irmãs!

Perder-te fez-me perceber que só posso aceitar... nada mais... porque ficar sem ti era, ali e naquele momento, o mais doloroso momento da minha vida!

Na minha frente estavas em coma, cheia de tubos, cheia de segredos! Segredos que quando eu pegava na tua Camila se transformavam em pesadelos... Eras tu ali no meu colo, eras tu quem abria os olhos com a minha voz!

Não sei se sei escrever mais, há uma semana que não te vejo, passo noites a imaginar os teus sonhos, os teus pensamentos. A minha mana mais que tudo e que de nada se lembra... sem emoções, sem medo!

Tenho medo de te ver... Tenho medo da tua luta, sim eu sei que lutas porque deveríamos estar em festa e insistimos em estar preocupados...

Desculpa o meu medo!!!

Sim, a Camila... doce...come...dorme...

Eu... estou aqui sempre porque te amo e porque a camila é a minha sobrinha!

Mana, não te perdi!