Primeiro, separei... Separei a imagem que tenho no peito, que guardo na alma, uma imagem desenhada durante muitos anos, feita apenas de emoções, uma imagem que remonta a memórias tão longínquas que delas, apenas reconheço momentos ou olhares ou palavras sem contexto. É a imagem primária, a mais forte, é o sentimento que prevalece quando chamo o teu nome. O teu nome aparece antes sequer de eu me conhecer, estavas ali quando as minhas primeiras memórias ficaram gravadas. És um facto, uma existência na minha vida, uma construção demorada, feita de milhares de tijolos, de dias, de lutas de vidas. Não és apenas um momento, és uma vida. És uma vida paralela, coexistente com a minha, diferente, mas está ali, a um passo, a um grito.

Há um frio único que me percorre o corpo sempre que algo ultrapassa a consciência que tenho da tua existência. Não o conseguiria explicar, apenas sinto... Podes inundar-me de imagens e palavras e sorrisos e cantigas, mas é nos teus olhos que o meu barco atraca, assim, implacável, é nas amarras que fica marcada a minha resposta, assim, frágil e implacável e inalterável, como se de uma única imagem eu escrevesse o teu livro. Sou arrogante? Ou apenas reajo dentro da minha alma a muitos anos, anos longos de uma vivência distante e tão unicamente sentida?

É isto que sinto, por ti! Ou contigo, porque não tenho que sentir nada especial por ti, sinto isto apenas! Sinto que sempre, sempre, estás algures ali ao lado, próxima de mim. Como naquele dia em que me mostraste o teu sitio especial e quando eu o vi, quando eu o senti, quis fugir, porque achei que não merecerias tal sofrimento, porque o senti também, ali, na Serra D'Aire, com uma imagem divinal à nossa frente.

Não quero sequer pensar que estou enganada, não quero sequer imaginar que esta construção é apenas uma ficção do meu espírito.

Separei esta imagem, de outra...

Hoje, estavas ali comigo, sem um abraço, sem uma palavra, sem um sorriso. Entraste cabisbaixa, sem aquele olhar frontal. Não te reconheci. Tive medo, medo de me enganar, medo da desilusão, medo do alheamento que ensombrou o nosso encontro.

Estavas a fingir, eu fingi, e nem sequer nos encontramos. É fácil escondermo-nos em cenários virtuais, cheios de palavras parcas de essência, cheias de falsos protagonismos. Que interessa isso? Que interessa essa imagem? Que interessa quem nos alimenta o ego mas não nos preenche a alma?

Na minha realidade real, há questões, há momentos, há respostas que urgem e não se respondem, como onde está?, onde esteve, porque não estava ali? porque não quis saber, porque não esteve ali comigo, quando eu tanto precisava. Sabes que não falo de mim. Sabes que falo da minha maior fraqueza. Aquela que de mim nasceu que não se contenta com as minhas respostas, as minhas avaliações. São questões básicas... se eu amo, porque não me amam? Ficam comigo as explicações, aquela explicações irritantes que fazem com que o mundo dos crescidos perca o sonho, perca a maravilhosa ilusão da plenitude da vida.

Não, não tens essa obrigação. Essa é a minha responsabilidade, fazer entender que a maravilha do amor, tem uns momentos de dor e de esquecimento, estou aqui para explicar que esse esquecimento é virtual. esse sim é virtual, Porque a necessidade é tão real!

Hoje, vi-te triste, envelhecida, sem aquela faisca no olhar.

Hoje, e por mim, e por mais alguém, fico assim, à espera, que voltes!

Hoje, estremeci, porque quando nos aproximamos, eu sinto-te. Hoje senti dor e mágoa e mais uns quantos sentimentos comparáveis com a dimensão de quem não está a viver.

Estás a viver mana?

Estás a entender que são estes os momentos mais importantes das nossas vidas?

Estás aí?

Ultrapassada a realidade que é a tua presença na minha vida, vrm a realidade, vem o dia a dia, nele não te encontro, não te reconheço, não sei onde estás.

hoje, olhei para ti e senti-me triste, talvez me engane. Talvez esta mania presunçosa que as ligações primordiais da nossa exitencia estão assentes em valores e raizes, esteja muito lonnge da tua realidade, mas é a minha convicção.

1 comentário:

Sandra disse...

Fico muitas vezes sem palavras quando aqui venho. Hoje foi mais um desses dias.Queria muito dizer algo que fizesse sentido e que servisse de ânimo. Mas simplesmente nada me vem à mente porque sinto que essas palavras apenas podem ser dadas pela pessoa a quem te referes no post.
Um beijinho e força
:)