.....

Sete da tarde, encontramo-nos, está bem disposta e alegre e falamos, como sempre, do acessório, dos outros, não de nós... mas rimo-nos! Estou bem disposta e sinto-me bonita!

Passa meia hora e quer ir embora... é sexta, estou cansada, apetece-me estar ali e relaxar e ver amigos e pessoas... digo-lhe que compreenda, pela primeira vez em 6 semanas as dores nas costas deixaram-me dormir o suficiente para não me apetecer ir para casa! Peço-lhe que fique bem, que se divirta...

Vamos jantar com o avô, no caminho tem um ataque de choro...

Chegamos, pergunto-lhe o que se passa, tento entrar naquele mundo, não deixa, como sempre!

Aproximar-me só pelo acessório, pelos outros... nada de nós... nada dela, nada de mim!

O jantar vai a meio e quer ir embora, levanta-se vezes sem conta, não fala, não sorri, olha com um pretenso ar superior para o que a rodeia, o ar já não é de superioridade, é de repulsa, de rejeição. Não é discreto... e por ser quem é torna-se implacável...

Inevitavelmente o assunto à mesa vira-se para este egoísmo ... O avô generaliza e fala de jovens egoístas, ela sorri, com um falso desdém... para mim, espero que não me esteja a enganar, é neste sorriso falso que salta a insegurança...

O assunto é interessante para nós e continuamos e falamos de gerações e de diferenças e de abismos e de respeito e de egoísmo e de valores e deles... eles os jovens! Ela não diz nada! Cai uma lágrima entre mais um revirar de olhos, fica séria entre mais um sorriso falso de que quem quer ser mais que tudo!

Assumo a minha culpa! Não tenho marcado o meu lugar, na vertente acessória de lugar. É sexta feira, sinto-me bem, estou a jantar com o meu Pai, não quero ir para casa!

A conversa fica mais séria, há quem insista em opinar (a madrasta, minha) talvez não devesse porque insiste em agradar a todos... e não ajuda! O avô cheio de convicções mostra no olhar que nem Pai foi na adolescência das filhas e sabe-o e ouve, atento, atónito, sem respostas para aquela presença, a doce netinha, a querida netinha...

Certa do cansaço de todos decido que vamos para casa.

No carro, zangada com o comportamento dela, pergunto-lhe porquê, a resposta foi um olhar, um olhar revirado que me acertou cheio de raiva, um olhar de pretensa superioridade que pretendia calar-me, um olhar de impaciência enquanto preparava os phones para a viagem, um olhar que sem palavras me dizia, como sempre ... Não sabes nada!

Sempre pensei que não iria acontecer, mas aconteceu, dei-lhe um estalo na cara, com as costas da minha mão... e tudo parou...

Só perguntei, enquanto lhe arrancava os phones dos ouvidos, se ela sabia porque o tinha  feito. Disse que sim, que foi pelo olhar...

A viagem foi tenebrosa, com lagrimas e chuva ...

Chegámos, ela foi para o quarto e assim terminou. Agora estou aqui com vontade de chorar, e vou esperar pelo amanhã!

O que eu sinto falta... de alguém...

Sem comentários: