A raiva...
Se não a olharmos, sem dó nem piedade, se não alcançarmos o seu intimo, mesmo contrariando regras e falsos sentires, se não nos despirmos da mentira que queremos para aceita-la como a sentimos... Cegamos!
A raiva permanece o corpo estranha-a, e não a vemos. Por onde passamos deixamo-la, em pedacinhos que de nós saltaram como farpas, como chamas. Não nos reconhecemos, desculpamo-nos com mentiras e continuamos cegos. Um dia o corpo aceita-a, para isso molda-nos de forma a sobreviver. Nessa altura é já quem nos comanda! Reagimos com raiva e abrimos portas para o que a suporta ... A cobardia, a inveja, a guerra... De repente parece que o mundo nos agride, nos falha... os que nos rodeiam estão errados, a culpa espalhamo-la à nossa volta. o trânsito, o stress, o cansaço, a doença, o ruído, a chuva... estamos cegos!
A raiva!
Porque não fiz.
Porque fugi.
Porque falhei.
Porque fui.
Porque não fui.
Porque sou.
Porque não sou.
Eu, eu, eu! Assim, de braços caídos enfrento-me sem desculpas, sem ódios, sem falsas certezas, sem imagens, assim... despida e sozinha! Pego em cada mensagem ou imagem ou palavra e enfrento-me. Sem ninguém saber, sem ninguém me ouvir ... Cada pedacinho tem uma história e eu vivo-a e revivo-a e sei-a e olho-a e choro se chorar e rio se me rir... e aceito-a! Cada porquê, cada não, cada sim!
E aceito-me!
E a paz invade-me... porque alcanço nesse momento o cimo dessa imensa escalada... a honestidade!
... agora sim, podemos brincar. Agora sim podemos falar.
Está tudo aqui, pertinho, a um passo de nós... Apetece-me gritar alto para todos ouvirem!
Párem! Olhem para voces! Enfrentem-se!
4 comentários:
Esse é o problema, o problema é olharmos para nós, enfrentar os outros é fácil...agora entrentarmo-nos a nós é complicado. Porque sabemos cada pedacinho, porque sabemos onde estão as feridas, e sabemos que algumas não têm cura, ou simplesmtente não as conseguimos curar...porque muitas vezes cada qual é o seu maior inimigo e o melhor é seguir caminho e não parar e não olhar para dentro...sim é o mais fácil, mas não é o mais honesto. E mais cedo ou mais tarde existem batalhas que não se podem adiar!
Beijos
Está tudo escrito nas linhas e entrelinhas deste texto.
Concordo plenamente. Temos de olhar para nós e entrar em nós, conhecermo-nos, testarmo-nos. Só depois de conhecermos todos os cantos e recantos do nosso corpo e da nossa mente, só depois de finalmente nos aceitarmos como somos, podemos continuar o nosso caminho e permitir que outros cheguem até nós.
Quantas são as pessoas que verdadeiramente se conhecem? ou se assumem como são, como um todo que tem defeitos e qualidades. Quantas são as pessoas que se conseguem enfrentar?
:)
Só quando olharmos para nós poderemos olhar e ver de facto o que nos rodeia... temos de ser pessoas primeiro... temos de ser primeiro... só depois podemos ser com mais alguém.
É mais fácil perdoar os outros que perdoarmo-nos.
É mais fácil aceitar os outros que aceitarmo-nos.
Mas só seremos verdadeiramente felizes quando o fizermos... quando nos olharmos nos olhos e formos mais verdadeiros connosco... e quando aprendermos a aceitarmo-nos... a perdoarmo-nos.
E talvez venhamos a perceber que a raiva pelo Mundo e pelos outros não é mais que a raiva connosco mesmosmo.
Beijos
:):):) Muito bonito este texto :)
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