MAS SÃO 10 ANOS E MEIO...

Ela já não lê o meu blog mesmo....porque não tem interesse nenhum! Então posso desabafar...

Se o meu estado fosse sempre de serenidade e paz total, muito provavelmente eu iria usar toda a minha inteligencia para responder aos constantes ataques desta criatura de 10 anos.

Volto aos meus 12 ou 13, sim porque isto evoluiu. Nessa idade que raio pensava eu da minha mãe??? Nem sei, não falávamos daquilo que eu vivia diariamente, culpa minha presumo eu. Não falámos nunca de namorados ou de período ou de miúdas irritantes. Havia um outro lado familiar... Em casa tudo decorria de outra forma, na escola era outra Inês. Será isto?

E lá venho eu, mãe cheia de ideias, colmatar todas as lacunas que consigo, ou acho que consigo, identificar na relação com os meus pais, nesta idade. E inundo a miúda com blá blá blá. Aos seis anos falámos de doenças sexualmente transmissíveis, compramos livros com título fabulosos como "O que fazem a Mamã e o Papá", ou seja, prepara-te filha porque o quarto dos pais está trancado à chave várias vezes. Conto histórias humilhantes acerca dos meus desgostos amorosos com aquela idade, tento transmitir alguns sábios conselhos acerca de como lidar com tudo, desde o professor ao gajo que nos ama e que não podemos ver nem pintado, à paixão assolapada por aquele outro que nem olha para nós, à nossa melhor amiga que foi contar aquele segredo à turma inteira... Desfaço-me em vivências reais, sinceras e ??? A resposta parece ser uma indiferença total... do tipo: " A minha mãe era mesmo tótó.

É um facto... sou moderníssima, leio, questiono, preocupo-me. Sou informada! Quero ser moderna e actual e ser qualquer coisa parecida com herói.

Mas não é bem assim...

Há dias em que me venera, quer saber como era comigo, o que eu fazia. Faço-lhe a depilação com cera ( demorou 2 horas), mostro-lhe o que fazer se o período aparecer no meio da aula de Matemática, desdobro-me ... perco-me entre o que sou e acredito ser o essencial e a Inês miúda e maluca que canta alto no carro e se mete com os colegas de turma.

De repente fica fechada, calada, mal disposta. Tudo o que digo é uma seca. Tudo o que dou é mau. Tudo o que tem não chega. Se repreendo revira os olhos. Se discutimos bate com a porta. se tento conversar não consigo chegar até ela.

Queria tanto ser o que idealizei, queria tanto acompanhar esta idade que não é nem nunca foi a minha, e não estou a conseguir!

Às vezes deixo que ela me magoe. Digo "deixo" porque a culpa é minha. Insisto em obrigá-la a sentir o que demorei 37 anos a consolidar. A família, o respeito...

A verdade é que a fasquia que pus, é demasiado elevada, como sempre em mim. A verdade é que tenho uma miúda educada, respeitadora, mas...

... mas que, tantas vezes, eu sinto tão longe de mim...

Do fundo da minha alma... acho que preciso de ajuda... nem que seja sentir que não sou a única, sou egoísta quando penso e sinto isto, a verdade é que não tenho uma referência, e as minhas memória, a minha experiência, estão muito, mas muito desactualizadas... e eu jogo PS3 e tenho umas roupas giras... mesmo assim...

2 comentários:

Alda Couto disse...

Este texto arrancou de mim um triste sorriso. Fez-me reviver horas passadas, momentos de profunda tristeza só porque não os compreendemos. Acreditamos que existe motivo exacto para tanta agressividade, mas não. Trata-se tão só da descoberta e afirmação de quem é saudável e sente que é único. Faz parte minha amiga. os filhos, principalmente as filhas, que eu tenho um de cada e sei do que estou a falar, fazem isso às mães e, se eu não fiz com essa idade foi só porque a disciplina não mo permitiu, acabei por fazê-lo um pouco mais tarde e não a amo menos, à minha mãe, por causa disso, tal como sei, de fonte segura, que o amor que a minha filha me tem é indiscutível, apesar de todas as lágrimas que me fez verter.
Os filhos são mesmo assim. Fazem-nos isso. Partem-nos o coração mas não é por mal, é necessidade de afirmação, nada mais.
Um dia chegarás à conclusão, como eu já cheguei, que a tua filhota tem uma forte personalidade, sabe o que quer e é uma mulher inteira. Consciência das dores que causou...pode até suspeitar, quando tiver mais idade, mas sabê-lo, sabê-lo...só quando for mãe.
Não dês demasiada importância. Não tomes o que ela diz por ataques pessoais. Sê o mais paciente que possas porque isso ainda agora começou. provavelmente durará uns bons anos e, provavelmente também, ainda piorará um pouco.
Um beijinho para ti e força, muita força.

Anónimo disse...

Longe de querer aqui deixar alguma tirada de psicologia de bolso, ao ler este seu texto, ao ler este seu eu, tão empenhado em chegar, em chegar lá dentro da sua filha, senti-me um pouco sem ar, senti-me invadido. Senti-me ela, a sua filha, a tal criatura de dez anos (atenção, ela e não a Inês - são duas pessoas diferentes) a ser 'ocupada' pela mãe, que, querendo-se moderna, preocupada, pró-activa, exigente...(louvável) espera que ela corresponda na íntegra aos estímulos que uma Inês, aos 10 anos, valorizaria. Felizmente os nossos filhos não são a soma aritmética dos nossos genes, são muito mais do que isso. Sendo inteligente e preocupada, não lhe exija muito, não a ocupe, dê-lhe espaço. Deixe-a procurá-la. São dez anos, ainda e só dez anos e são os dez anos dela.

Fique bem